Em primeiro lugar o líder deve ter a capacidade de ANTECIPAR os acontecimentos! Estar atento a todos os sinais dos jogadores, o que se passa nas diversas relações revela-se muito importante, de forma a perceber o tipo de interacções e se há indícios de anormalidade comportamental entre os jogadores: no convívio social, antes dos treinos, nos balneários, no treino, no jogo, em diversas iniciativas onde os jogadores estão presentes.
Outra grande faculdade que deve ter um bom líder é saber OUVIR! Parece uma faculdade sensitiva muito simples, mas a verdade é que nem toda a gente sabe ouvir os outros, aqueles que estão e têm importância e intervenção na dinâmica da equipa: elementos da equipa técnica, jogadores, pessoal auxiliar do departamento médico, rouparia e relva, directores e pessoas que acompanham a equipa. Ao ouvir, muitas vezes mais do que falar, o líder vai ter mais informação sobre o envolvimento, percebendo-o, o que lhe permite tomar as melhores decisões. Se conseguir antecipar futuros problemas ou perceber que existem relações que se podem estar a deteriorar, deve intervir desenvolvendo estratégias de forma a tentar sanar ou minimizar esses possíveis conflitos.
Mesmo tendo uma grande capacidade do líder para ANTECIPAR e OUVIR, muitas vezes existem incompatibilidades entre jogadores que são quase inevitáveis! O que fazer então nestes casos? Em primeiro lugar, saber OUVIR os intervenientes individualmente e perceber se as razões dessa incompatibilidade são passíveis de se poderem solucionar! Se achar que o pode fazer, deve agir com discrição e com diálogo fazer uma mediação eficaz! Mas muitas vezes debatemo-nos com personalidades ou problemas que não parecem resolúveis a curto prazo e que podem afectar o ambiente colectivo da equipa.
Nestes casos, temos que ser muito incisivos, frontais e determinados a “atacar” o problema:
• Fazer sentir aos jogadores em questão que em primeiro lugar está a equipa;
• Comunicar com grande determinação que existem regras de comportamento colectivas e que a comunicação profissional terá que existir com fluidez;
• Ser muito claro em dizer que quem quebrar as regras do bom funcionamento da equipa será duramente penalizado; • Agir com total intransigência com qualquer dos jogadores, independentemente do estatuto do mesmo. Muitas vezes nestas situações cede-se à tentação de tentar resolver o problema “separando” os jogadores, inclusivamente de espaço físico no balneário. Mal, a partir daqui vamos ter dois grupos na equipa ao lado de cada jogador e é o caminho para ficarmos com a equipa “partida”. A clarificação do problema ao grupo e respectivas regras e inflexibilidade para as mesmas é o caminho para resolver este tipo de conflitos. Pela minha experiência, como pessoa do futebol, posso afirmar convictamente o seguinte: prefiro uma equipa com grande solidariedade dentro do campo do que uma equipa com bom ambiente social! Esta frase pode parecer estranha, mas passarei a explicar! Como jogador, recordo-me de pertencer a uma equipa cujo ambiente social era péssimo, horrível! No entanto, estes mesmos jogadores que tinham uma péssima relação entre si na vida social e inclusivamente no balneário, dentro do campo eram uns campeões, tendo um excelente espírito de equipa e uma solidariedade a roçar o excelente! Como treinador já passei pelo contrário! Uma Equipa na qual os jogadores tinham um excelente ambiente de balneário. Partilhavam a vida social, juntavam inclusivamente muitas vezes as famílias. Os conflitos entre eles eram nulos e todos vivam em harmonia! Mas tinham um problema, a solidariedade e a entreajuda que mais me interessa, dentro do campo, como “irmãos de guerra”, era nula.
De tudo o que foi dito podemos concluir o seguinte:
• Os conflitos numa equipa são quase que inevitáveis e não podem ser vistos como dramáticos;
• Devemos assumir uma atitude preventiva e para isso devemos ter a capacidade de saber ouvir todos os intervenientes;
• Como líderes, devemos ter a capacidade de lidar como os problemas, tentando mediar e soluciona-los com descrição;
• Se este persistir, devemos enfrentá-lo com determinação em frente ao grupo, definindo claramente as regras que abrangem todos e as penalizações para quem não as respeitar;
• Como líderes queremos acima de tudo eficácia! Essa eficácia vem do desempenho dos jogadores dentro do campo;
• É a solidariedade, a comunicação e o sentido de equipa que devemos preservar intransigentemente;
• A solidariedade social é importantíssima, mas não é decisiva;
• É melhor ter um grupo de guerreiros preparados para lutar por uma causa no qual existam alguns elementos que não se falem, do que um conjunto de amigos e bons rapazes apenas preparados para ir para um… jantar!